Numa noite escura e fria de verão, não conseguia dormir, nem
estar em casa a olhar para as paredes, esperando o sono chegar, então decidi ir
desanuviar. Parei junto ao mar, a sentir aquela brisa fresca que me acalma.
Foi aí que, por mero acaso encontrei um "amigo", ou melhor o meu ex namorado. Automaticamente abracei-o, não sei bem porquê.
Não suportava a dor de ter perdido alguém tão próximo ao ponto de nunca a mais
a puder ver, ouvir ou sentir. Só precisava de um abraço assim, sem que me
perguntassem o que se passava. Passamos a noite a falar, passou tão rápido que
parecia que tinham passado apenas cinco minutos e já estava a assistir ao
nascer do sol. Ele fez-me sentir bem de novo, como nunca me sentira antes.
Senti que tudo o que tínhamos vivido estava a voltar. Na verdade, depois dele
eu não tive mais ninguém na minha vida e já lá vai um ano. Eu ainda o
amo. Sempre o considerei o tal, nós parecíamos almas gémeas e tudo o que tínhamos
era perfeito e mágico. Eu quis lutar mas não tive forças, deixei de gritar para
o mundo o quanto o amo e o quero. Ele deixou-me da pior maneira. Logo ele, não
podia mas a verdade é que o fez e eu fiquei sem chão, sem rumo e ele nem se
importou. Não quis mais saber apesar de prometer que ficaríamos amigos. Ele não
me trocou por ninguém. Bem, talvez. Ele deixou-me porque adoeci. Sim, deixou-me
da pior maneira. Comecei a ficar fraca e muito magra. Tinha vómitos frequentemente
e, por vezes, hemorragias. Tudo sem saber porquê mas, na altura, não lhe contei
o que se passava comigo. Os médicos sempre diziam que não era nada até que
desmaiei e fui parar ao hospital. Ele foi lá visitar-me, preocupado comigo. Eu
não sabia o que tinha, os médicos não me tinham dito ainda. Quando ele ia para
se ir embora o médico veio contar-me o que se passava. A expressão dele não foi
a melhor, diria que foi péssima mesmo. Por isso, calculei logo que não fosse coisa
boa o que me esperava. O médico avançou e sem mais rodeios disse que eu tinha
leucemia. Os meus pais desataram a chorar. Eu e ele olhamos um para o outro e
ficamos paralisados como estátuas enquanto o médico avançava sobre o que era ao
certo isso. Lembro-me de ele dizer que era uma espécie de cancro que atinge o
sangue. No meu caso, era leucemia aguda, de início e evolução rápidos. Eu não
podia acreditar no que ouvia, não podia ser eu. Enquanto isso o médico
continuava a falar e logo então gritei para que parasse. Em tão pouco
tempo já estava farta de ouvir a palavra leucemia aguda. Ate parecia que dava
eco. Os meus pais abraçaram-me a chorar e eu com a lágrima nos olhos não disse
mais nada. Fechei os olhos e abracei-os com muita força. Já estava mais segura.
Quando abri os olhos não vi mais ninguém a não ser os meus pais. O meu
namorado, que dizia ficar comigo independentemente de tudo tinha ido embora.
Virou-me as costas, pensei eu. Teve dias sem dizer nada, nem uma única mensagem.
Eu não sabia o que pensar ou que dizer, só queria ir a correr atrás dele mas
não o fiz, talvez por orgulho. Dias depois, quando cheguei a casa estava ele à minha
porta. A primeira coisa que me disse foi “Desculpa” eu sem mais nada abracei-o.
Ele disse que não queria acreditar, estava assustado e por isso decidiu estar
uns tempos longe para pensar. Ele não suportava perder-me e eu tranquilizei-o
dizendo que eu ia ficar boa e não me perderia. O que eu disse não era o que eu
sentia. Não estava nada otimista, uma vez que a minha doença evoluía rapidamente
e os médicos me davam pouco tempo de vida mas mesmo assim mostrei-me forte. Eu
tinha hipótese de fazer tratamento, embora os médicos achassem que não haveria
solução mas os meus pais insistiram que fizessem. Na verdade, eles deveriam ser
os únicos com esperança de um milagre. Quanto ao meu namorado ele queria
acreditar que eu ficaria bem mas não conseguia. Ele queria que eu fosse
otimista mas eu não conseguia, ele não sabia que eu tinha pouco tempo de vida.
Pedia-me para acreditar e lutar e eu tentava mas eu sabia que ele não acreditava
que eu fosse recuperar. Ele aos poucos foi-se afastando, mal falava comigo e
sempre que falávamos discutíamos. Ele acabou por desistir de mim. Custou-me
perceber isso mas era a verdade. Além de me estar a perder a mim, perdi-o a ele
também, a pessoa que mais amava. Senti-me a pior pessoa de sempre. Senti-me culpada. Estava fraca, sem forças e a cada dia mais pior. Fui parar novamente a uma
cama de hospital, achei que aquele seria o meu fim. O médico disse que estava
pior. Comentou com os meus pais que eu precisava de ânimo e força. Sem isso eu não
seria capaz de recuperar. Mas eu não tinha onde buscar forças. Estive um mês internada
e diariamente convivia com pessoas com a mesma doença que eu. Vi várias pessoas
lutando com unhas e dentes partindo e outras vencendo. Convivendo diariamente com essas pessoas fiz amigos. Foi assim que eu ganhei
forças, dei tudo de mim e acreditei que estava em mim e não nos médicos a minha
cura. Comecei a lutar e a acreditar mais em mim. Achei que era esta a minha oportunidade,
se conseguisse ficaria mais forte mas se não conseguisse partia feliz e
guerreira por ter tentado. O meu ex namorado nunca mais me disse nada, nem uma
mensagem e nem soube mais nada dele. Enquanto isso eu diariamente agradecia por
cada dia vivido. Muitas vezes chorei é certo e perguntei porquê eu mas fui melhorando e isso só me dava mais motivação. Hoje ainda não estou completamente
recuperada mas estou muito melhor, surpreendi os médicos, eles não me davam
tanto tempo de vida. Já passou um ano e eu mudei completamente, a minha vida
mudou, assim como o meu estado de saúde Quanto ao meu ex namorado hoje foi bom estar com ele e quanto ao futuro
só o tempo dirá. Fiquei magoada com ele, óbvio mas também compreendo a posição
dele. O medo de me perder e o fato de me ver sofrer piorou tudo e por isso é
que ele por assim dizer fugiu. Se eu o perdoo, perdoo. Depois de tudo o que
passei aprendi a perdoar mais e a dar mais valor a pequenas coisas. Mas jamais
esquecerei a dor de ser abandonada por ter o que tenho e não conseguir ter
esperanças em mim mesma. Só quem passa por isto é que sabe. Hoje sinto-me uma pequena
guerreira feliz com muito para dar ainda.
ps: esta não é a minha história

4 comentários:
tocou-me, porque sei o que é ter a morte por perto. não em mim, mas na familia. querida, parabéns por seres uma guerreira e conseguires ultrapassar tudo isto. quanto ao teu ex, eu sou rapaz e desculpa dizer-te mas ele não é homem para ti. não se faz o que ele fez, não é de quem ama, não é de namorado, muito menos de homem. o medo serve para ser enfrentado, principalmente por quem merece que dêmos tudo. quem não está para o nosso pior, também não tem de estar para o melhor. se passaste esse mau momento da tua vida sem ele, também passarás os próximos, que com certeza serão melhores. o medo de te perder só deveria dar mais força para te agarrar. o medo de te perder não seria motivo para desaparecer sem rasto. ninguém merece tal coisa, muito menos alguém num estado debilitado como o da doença. fecha essa porta que o mundo trará alguém que mereças. é só uma opinião, é evidente que ele poderá ter algum motivo mais forte, mas mereces melhor que alguém que te abandona quando mais precisas. muita força na tua recuperação. sê feliz.
concordo plenamente mas isto não se passou comigo, não é a minha historia :) apenas decidi encarnar numa cena diferente e inventar uma história e saiu isto e acredito que pelo menos uma pessoa já passou por isto daí o ter publicado.
então ainda bem que não é contigo e que estás bem. o desejo de que sejas feliz fica na mesma :)
sim, ainda bem*
muito obrigada e igualmente :)
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